27 dezembro 2010

Sem ação

Cortar-te-ei com a minha fria boca
sei que sangue há de jorrar
porém, tu inerte jamais se moverá

És um fraco, realmente um belo covarde sem braços
não vives, não amas, nem ao menos choras

Ainda insiste em moças sem sentido,
pois está sempre a negar o teu irremediável destino

Vive desejando a maldita da morte
simpatiza com o perigo, e ainda se julga o maior dos pervertidos

Este meu louco poeta está por ai, perdido e sozinho
procurando um sentido, que dificilmente há de encontrar...

Foi somente hoje que vi
então, agora entendi

Desperdicei minhas lágrimas por um laico ortodoxo
entreguei minha alma à um inebriante paradoxo

21 dezembro 2010

Perversa acomodação

Hoje fazem 18 dias que renasci

Não lembro de nada
minha memória se encontra apagada

Acordei em teus braços
com meus olhos ainda tapados

Experimentei uma droga de liberdade
cheirei o pó da vaidade
abusei da pílula da banalidade
e por fim, injetei o líquido da anormalidade

Meu castigo foi dormir, obedeci

Quando o tudo é nada
a solução é nada fazer
minhas mãos estão atadas
minha boca está vedada

É o preço que nos fazem pagar
nos falam que o único jeito é se adaptar

Quero gritar, mas estou fraca
quero chorar, mas já não há mais lágrimas
permanecerei deitada...

09 dezembro 2010

Fora de si

Como sempre olho pelo buraco da fechadura
neste mundo em que sou reclusa

Observo as pernas andando sem motivo
debocho das línguas exarcebando sem sentido
são coisas belas e sujas, fáceis e inoportunas

Dos meus desatinos, só eu sei
As minhas preces, somente eu rezei

Me afasto disso tudo e me ponho a pensar
critico a nossa atual conjuntura
choro por essa falta de cultura que insistem em não nos dar

São meus sorrisos camuflados que me ajudam a esconder
esconder o que é facilmente denunciado por meus pequenos olhos

Aquelas palavras que me foram como chagas
minhas doces alegrias infundadas
e até mesmo as profundas marcas que me foram deixadas

São desvarios que resolvo com minha habitual dose de liberdade
Somente assim esqueço a complexidade dessa nossa doente sociedade